…sem papel higiênico
Numa breve pesquisa sobre a Índia em alguns blogs de viagem já havíamos lido que os indianos não tem o costume de usar papel higiênico. Toda a limpeza pós número 1 e 2 é feita com a mão (esquerda, porque a direita se usa para comer) e com um balde de água ou chuveirinho que sempre tem embaixo das torneiras, aliás os indianos acham super esquisito nosso hábito de limpar-nos com papel higiênico, para eles nunca se limpa 100% com o papel, sempre acabamos com a bunda meio-suja (tem bastante verdade nisso hein…). Ao chegarmos aqui constatamos que o fato é verídico, embora nos hotéis e restaurantes mais turísticos sempre há uma privada e papel higiênico à disposição. Nos locais sem preparação para o turismo há apenas um buraco no chão (acho que nossos pais e mães devem ter experimentado isso na infância). Aqui na escola em que moramos temos nosso vaso sanitário, balde e chuveirinho. No primeiro dia até tinha papel, mas depois tivemos que ir atrás e no mercado o preço é bem salgado. Devido aos gastos resolvemos racionar e começamos a aderir ao costume de usar o chuveirinho e fazer o trabalho com a mão esquerda mesmo…
Novo país, novos costumes…
…sem talheres
Aqui todas as refeições são feitas com a mão direita. Em todos os restaurantes há uma pia (geralmente sinalizada com WASH) e assim que entram no estabelecimento todos vão direto lavar a mão antes de se sentar. Acabando a refeição a mesma coisa acontece já que as mãos estão todas lambuzadas de molhos e condimentos. Confesso que eu, Janine, me adaptei bem e apesar de muitas vezes derrubar comida na blusa ou na calça com o tempo fui me acostumando, agora o Mateus… não teve jeito, cada vez que tinha que juntar o arroz caía tudo, o que fez com que o dono do restaurante nos servisse nossas comidas sempre com uma colher para facilitar a nossa vida. Falando em comida, a saudade da comida brasileira (e japonesa) é imensa. Os temperos usados no dia-a-dia são sempre muito apimentados, mas não reclamamos já que temos como nos alimentar, embora muitas vezes nos pegamos conversando sobre a saudade de um pão francês com manteiga e queijo, um prato de arroz e feijão, etc…
A apimentada e saborosa comida de Kerala.
…com segurança
Uma das melhores coisas de se viver em Kerala é poder sair na rua ou ir nos lugares sem ter a preocupação de ser assaltado ou correr algum risco. Claro que não podemos garantir que tudo é 100% seguro, mas durante a nossa jornada não vimos e não soubemos de nenhum caso de roubo ou algo do tipo. Aquela angústia que nos acompanha nas ruas do Brasil ou no cuidado com a bolsa dentro dos estabelecimentos aqui é substituída pela tranquilidade (o medo maior é de ser atropelado devido ao trânsito). Conversamos uma vez com o nosso amigo Sateesh e ele disse que aqui as pessoas não tem arma e os casos de morte são relacionados à crimes passionais ou disputas políticas. Aqui também se vive uma preocupante polarização entre esquerda (situação) e direita (oposição). Na rua andamos com celulares, câmeras a mostra e nunca corremos algum tipo de risco e nem passamos medo o que nos faz refletir o nível de insegurança que vivemos no Brasil e quanto viver assim parece absurdo. É uma das diversas coisas que vamos sentir falta daqui.
Assaltos e roubos não existem, mas o trânsito é maluco e temos de estar sempre atentos.
…mais barato
Apesar do caro papel higiênico (cerca de R$ 2,50 o rolo), realmente não podemos reclamar dos preços daqui, as coisas são baratas. Na conversão R$1,00 vale cerca de 20 rúpias. Alguns exemplos: Hamburguer de Frango + batata frita + Milk Shake = R$5,00, pacote de pão = R$1,15. O Mateus ficou doente há algum tempo e tivemos que usar o hospital privado aqui da cidade. A consulta custou R$5,00, o exame de sangue R$5,05, esparadrapo R$ 0,17. Esses dias atrás a cidade fez um protesto devido o aumento do valor dos impostos, só que o imposto aqui em geral não ultrapassa os 18%, e no Brasil parece que não temos a mesma consciência na luta pela diminuição das nossas absurdas taxas. Vale ressaltar que apesar de os valores serem baixos a qualidade dos produtos é boa, a maioria das vezes o problema está no cuidado do armazenamento.
No mercado, sempre tudo jogado.
…com um nível de higiene abaixo do que estamos acostumados
Se tem uma coisa que no começo nos incomodou foi o nível de limpeza dos lugares públicos e alguns lugares privados. Nas ruas então… nem se fala, o lixo faz parte da paisagem das cidades e os cheiros colaboram com a situação nada acolhedora. Aqui em Cheruturuthy a quantidade de lixo nas ruas é bem menor e o que predomina nas paisagens são as palmeiras e coqueiros, mas na rua não tem uma lata de lixo ou lugar específico para o depósito do lixo. Até na escola não sabemos ao certo o que fazer. O que podemos constatar é que a quantidade de lixo produzido é bem menor que no nosso país uma vez que comem mais comidas naturais, menos industrializadas, não usam papel higiênico, etc… mas a falta de cuidado realmente é preocupante. Junto com tudo isso, o clima é super úmido e as paredes ficam manchadas e mofadas, além do imenso número de teias de aranha por todos os lados. Cada noite que passa aumenta inacreditavelmente o número delas. Esse é um fato que nos difere bastante, percebermos que a limpeza não é uma grande preocupação da maioria dos indianos.
Aracnofóbicos com certeza terão problemas na adaptação…
…com pessoas que são curiosas por você
O melhor do Brasil são os brasileiros e o melhor da Índia são os indianos. A simplicidade e a humildade com que eles vivem são o melhor aprendizado daqui. Além disso eles são muito curiosos com tudo, perguntam coisas que para a gente são íntimas, apesar de às vezes também demostrarem um sorriso de vergonha. Para eles nós somos como famosos e as selfies nunca param. Sempre vai ter gente querendo tirar foto com você o que para a gente era muito estranho no começo mas agora já estamos acostumados. Quem acompanha nossas redes sociais soube que o Mateus saiu em um jornal local por jogar futebol com os nativos. Aliás, isso é uma coisa que escutamos aqui, que não são todos os estrangeiros que se envolvem com a comunidade (como jogar bola, ir nos casamentos) e que por isso muitas pessoas gostam da gente e a curiosidade é ainda maior já que damos mais abertura. Nossa jeitinho brasileiro contribuiu com o carisma…
Sorria!
…viver em uma vila de artistas
Somos artistas, no Brasil a grande maioria dos nossos amigos também são. Aqui em Cheruthuruthy a cidade gira em torno da Kerala Kalamandalam (Universidade de Artes) então quase todos são artistas (músicos, atores, escultores, dançarinos, pintores, cineastas, fotógrafos, etc…). Em cada conversa nos restaurantes e bar (no singular, só tem um bar aqui) o assunto quase sempre é a arte, a universidade e a intensa programação cultural do estado. Muitas (e lindas) são as manifestações artísticas de Kerala e diferente do Brasil aqui a arte é muito valorizada. As apresentações estão sempre lotadas e o público está acostumado com performances de mais de 6 horas, ninguém arreda o pé.
Antes das apresentações o papo é sempre muito divertido, com causos do passado e muitas histórias.
Existem muitas outras coisas que são diferentes por aqui: andar de tuk tuk, escutar inglês com sotaque indiano, tomar banho de água gelada, andar nas ruas sem calçadas, etc… o mais legal disso tudo são as descobertas, as surpresas, é entender que o diferente é um grande aprendizado, que nossa vidinha é muito pequena e há um mundão de coisas para descobrirmos. A Índia tem nos trazido a consciência de que apesar das diferenças o que nos encontra é a essência de ser humano.